Tem ido ao supermercado nos últimos tempos? Ou já foi fazer as compras para o regresso às aulas do seu filho? Ou tem parado numa ou noutra pastelaria para tomar um café? Se respondeu "sim" a pelo menos uma destas perguntas, então sabe do que vou falar — problemas no atendimento. Do novo atendimento COVID — com máscaras. Porque, não, este (ainda) não é normal.
Veja comigo os problemas que o novo atendimento com máscara traz. (A seguir vamos falar das soluções, prometo).
Problema # 1. Fala-se com dificuldade.
Quem já tinha problemas de dicção agora vai ter um novo desafio — falar através da máscara. Porque a máscara tapa, literalmente, a passagem do som. O que nos leva a outro problema — #2.
Problema # 2. Ouve-se com dificuldade.
Quando fazemos o pedido, este nem sempre chega conforme o solicitado. Lembra-se daquele jogo de "telefone estragado" a que brincávamos quando eramos miúdos (sim, na Rússia também existe este jogo). Eu sussurro uma palavra ao ouvido da pessoa ao lado, esta passa a mesma palavra para outra pessoa ao lado e assim em diante. Quando a palavra chega à última pessoa, normalmente já não tem nada a ver com a palavra inicial. Por isso é que, às vezes, quando pedimos um pão com queijo e manteiga, nos servem um com fiambre e sem manteiga.
Problema # 3. Vê-se com dificuldade.
Ou, melhor dizendo, vê-se pouco. Não vendo metade da cara, torna-se muito difícil perceber as emoções e as intenções da outra parte.
Se estamos de acordo com os problemas (com certeza que a lista poderia ser mais extensa), aqui ficam algumas soluções que pode começar a incorporar no seu dia a dia já hoje:
Solução # 1: Trabalhar melhor a dicção.
Sim. Dicção. Quanto mais clara for a sua fala, quanto mais bem articuladas forem as palavras, menor será o efeito negativo da máscara que tapa a passagem do som.
Solução # 2: Virar-se (literalmente) para a pessoa para quem fala.
Como a passagem do som da voz já está condicionada, pelo menos consegue projetar a voz na direção da outra pessoa. Se antigamente dava para continuar a trabalhar no computador e falar com o seu colega ao mesmo tempo, agora já não — corre o risco de não ser ouvido. Vire-se para a pessoa. Assegure que ela está a ouvir. E só depois fale. Este pequeno truque ajuda — já testei.
Solução # 3: Ter maior atenção à postura.
Novamente, virar a cara para a pessoa com quem está a falar já é bom. Virar o corpo será ainda melhor. Porque ajuda a demonstrar interesse e atenção. (A dica que vale para situações com e sem máscaras, aliás).
Solução # 4: Utilizar muitos, muitos, mas mesmo muitos gestos ilustradores.
São aqueles que "ilustram" aquilo que está a ser dito. Por exemplo, eu digo "redondo" e "desenho" um círculo com as mãos. Isto é um gesto ilustrador. Da mesma maneira pode dizer "queria dois cafés" e mostrar o 2 com dois dedos. Ou se precisar de duas faturas diferentes para os materiais escolares, aponte com as mãos para um lado e para outro e diga "estes cadernos vão para uma fatura e estes para outra", respetivamente.
Solução # 5: Ser expressivo com os olhos.
Isto implica criar algumas rugas na testa e à volta dos olhos — por isso, se não as quiser ou se já tiver botox, tudo bem, compreendo que não siga este conselho… ????
Acredito que, se todos fizermos um esforço, consigamos tornar o novo atendimento numa experiência mais agradável para ambas as partes. Implica comunicar com mais clareza e ouvir com mais atenção. É fácil? Não. É possível? Sim. Porque, afinal, estamos todos na mesma tempestade. E que tal partilharmos o barco?