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A tomada de posse do Donald Trump

Ontem, decorreu a tomada de posse de Donald Trump como o 47.º Presidente dos Estados Unidos da América. Enquanto as redes sociais e a imprensa discutem as novas medidas e a roupa de Melania Trump, vou partilhar convosco alguns pormenores não verbais que chamaram a minha atenção nesse dia.

#1: O local - dentro do Capitólio.

Sim, a desculpa oficial foi o frio lá fora. E provavelmente estava frio. Mas também, com certeza, nunca esteve calor nos outros anos. A mudança de local parece ser mais do que uma mera preocupação com as pessoas que iriam assistir ao evento — para Trump era uma questão de marcar a sua posição, de dizer “aqui estou eu, dentro do local de que expulsaram as pessoas que me defendiam em 2021 e, já agora, vou absolver algumas dessas pessoas”.

2021:
2025:
#2: A presença de Biden e Kamala, e a ausência de Michelle Obama.

Em 2021, quando Joe Biden tomou posse, Trump recusou-se a estar presente. Mas Joe Biden e Kamala Harris não são tão radicais ou atrevidos para romperem com a tradição em 2025. Por isso, estavam presentes e na primeira fila. Porém, enquanto durante o discurso as pessoas se levantavam para aplaudir, os dois permaneciam sentados — afinal, decidir assistir ao evento não significa que sejam obrigados a comportar-se como todos os outros. A única vez que Biden e Kamala se levantaram junto com as restantes pessoas na sala foi quando Trump falou da libertação de reféns na zona de conflito Gaza-Israel — o único momento do discurso do Trump com que concordaram. Pronto, marcaram o ponto.
#3: A gravata de Trump.

Sim, outra vez a gravata. Depois de esta se ter tornado um traço distintivo da marca pessoal de Trump e da sua política, depois de aparecer na capa da The Economist em outubro do ano passado, precisamos de olhar para a gravata usada no dia da inauguração. E o que vemos? Trump deixou a sua gravata vermelha em casa e optou por… uma gravata roxa. Qualquer criança que já tenha misturado cores sabe: roxo é a junção de vermelho e azul — podia ser coincidência, mas parece-me muito que seja uma fusão entre a cor do Partido Republicano e a dos Democratas. Afinal, ele será o presidente de todos, como reforçou em vários momentos da campanha. Daí a gravata roxa. E a gravata vermelha? Não desapareceu — estava no JD Vance, o novo Vice-Presidente.
#4: O ambiente continua machista.

Logo após o juramento, Trump deu um aperto de mão a Joe Biden, mas decidiu ignorar a Kamala Harris que estava mesmo ao lado. Se foi por mera negligência ou era uma forma não verbal de desprezar a sua adversária de há poucos meses, não sabemos. Mas a impressão ficou — Kamala foi deixada de lado.

Por outro lado, o filho mais novo de Trump não seguiu o exemplo do pai e, depois de dar um aperto de mão a Joe Biden, estendeu a mão a Kamala Harris. Aqui podemos discutir, claro, se estava numa posição hierárquica adequada para o fazer, mas deixemos isso para os especialistas em protocolo.

#5: A mão, claro!

A mão esquerda de Trump nunca chegou a tocar na Bíblia. Se foi por esquecimento ou intencional, também nunca vamos saber. Mas, para já, fica registado na história: Trump não jurou com a mão sobre a Bíblia.
#6: O chapéu de Melania.

A opinião pública ficou dividida: uns dizem que era para se “esconder” e dar o protagonismo ao marido; outros defendem que era, ao contrário, para destacar-se. Na minha opinião, é difícil alguém passar despercebido quando é a única pessoa a usar um chapéu. Por isso, chamou a atenção, sem dúvida. Contudo, este chapéu cobria metade do rosto (ao contrário do chapéu muito pequeno de Ivanka Trump, que parecia mais um acessório do que um chapéu propriamente dito) e, assim, ajudava a esconder mais de metade das emoções, expressões e reações. Parece-me que esse foi o principal objetivo — esconder-se dos olhares e das câmaras e, até, do beijinho do marido.

#7: A receção do novo Presidente e da Primeira-Dama pelo casal Biden.

Um chá da tarde, uma tradição, simbolizando a passagem da Casa dos antigos “inquilinos” para os novos. Em 2017, o casal foi recebido por Barack e Michelle Obama, e foi um momento muito infeliz para Melania: primeiro, foi deixada para trás junto ao carro pelo marido; depois, a entrega do presente a Michelle não correu bem: presente para o lado, para trás, confusão momentânea, mas suficiente para deixar Melania desconfortável (para sermos honestos e objetivos, fica registado. a Michelle também não ajudou!).

Ontem, 8 anos mais tarde e com lições aprendidas, Trump esperou pela esposa antes de subir as escadas, e Melania decidiu não levar presente algum (medo de passar pela mesma situação?). Tudo correu bem. Só um pormenor: há 4 anos, o casal Trump quebrou a tradição (mais uma vez) e não recebeu o Presidente eleito Joe Biden e a sua esposa para o tal tradicional chá da tarde.
Para poder comparar, deixo aqui o vídeo com a primeira chegada do casal Trump à Casa Branca em 2017.
E agora? Aguardar. Pode gostar ou não do Trump, mas foi um Presidente eleito, e pela maioria do voto popular. E nós, vamos continuar a observar, a política e a comunicação, verbal e não verbal.