Blogue

4 lições do Professor José Sócrates


Na semana passada, José Sócrates foi entrevistado na TVI por José Alberto Carvalho. A última entrevista do antigo primeiro-ministro de que me lembro foi já há uns anos (quando foi libertado) e foi na RTP1. Apesar de tantos anos de silêncio, José Sócrates continua em boa forma como entrevistado e até consegue ensinar-nos algumas estratégias para que a sua próxima entrevista corra muito bem. Mesmo que a sua entrevista não tenha a mesma cobertura mediática, poderá sempre usar estas estratégias — são universais e atemporais.

#1. Leve consigo apontamentos e um copo de água.

Ajuda a manter o raciocínio, a lembrar tudo o que pretende dizer e a hidratar-se ao longo da conversa para evitar uma voz “seca”. Dicas fáceis, certo? Mas há 2 pormenores importantes:

👍 Os apontamentos devem ser escritos em papéis pequenos — não o tapam e contribuem para a impressão de que é uma pessoa organizada e com pensamento arrumado, além de que são fáceis de manusear, se for necessário.

👍 O copo de água é colocado ao lado — não cria uma barreira com o jornalista e/ou audiência e ajuda a criar a impressão de que é alguém disponível, transparente e honesto (não sei se no caso dele ajudou muito, mas se usar na sua entrevista vai ajudar com certeza).

Veja como fica a imagem na sua totalidade: 

#2. Deixe a sua caneta em casa (ou no bolso do casaco)!

Reparou que Sócrates não levou caneta?! E fez bem. Primeiro, porque numa entrevista não é suposto escrever — é suposto falar. E depois uma caneta acaba por ser sempre uma fonte de asneiras — costuma ficar presa na mão, fazer um click-clack irritante, ser usada para apontar e até cair.
Se na última entrevista na RTP1 usou uma caneta que por vezes o atrapalhou, desta vez optou por não correr de forma alguma esse risco. 5 pontos para Sócrates e 10 para a sua equipa da comunicação!

#3. Gesticule!

Gesticular é importante — ajuda a ativar todos órgãos envolvidos na produção de som (literalmente) e, conforme revela um estudo da Colgate University, a compreender a mensagem com menos erros e a memorizá-la durante mais tempo. Sócrates não foi à televisão só para falar – foi para se defender e tentar que a mensagem sobre a sua inocência ficasse mais tempo na nossa memória. Quanto à inocência não sei, mas vamos recordar esta entrevista durante algum tempo, pode ter a certeza!

Veja alguns exemplos de gestos-ilustradores que Sócrates utilizou e com sucesso — estes acompanham as suas principais mensagens, ajudam a reforçar, a numerar e a destacar pontos mais importantes.

Steeple para “frisar” uma mensagem mais importante:


Numerar com dedos para que a audiência retenha a quantidade de ideias chave:


Apontar com os dedos em forma de pinça — é um híbrido entre o gesto de precisão e o de apontar — ajuda a apontar sem parecer agressivo e “bater o ritmo” da conversa.


#4. Lembre-se da sua postura!

Durante uma entrevista é fácil deixar-se envolver pela conversa, entusiasmar-se e, a dada altura, reclinar-se para a frente, encolher ou subir os ombros. José Sócrates não é exceção — também lhe acontece. Mas, ao contrário da maioria das pessoas que são entrevistadas, lembra-se de ajustar a postura de vez em quando: tão depressa está prestes a atacar o jornalista, como um segundo depois está a inclinar-se para trás e esticar as costas
Fez-lhe bem e vai fazer bem a si, se o fizer durante a sua próxima entrevista ou reunião - garanto!

Se leu até aqui, já deve estar a pensar: “pois, as estratégias são boas, mas não vão salvá-lo!”. É verdade... o caso dele é muito particular. Mas... se ajudam alguém acusado de 6 crimes a manter a postura, a passar uma boa impressão, apesar de tudo, e até a ganhar novos “seguidores”, vão ajudá-lo a si com certeza!
Acredito que haverá sempre pessoas que não vão apreciar aquilo que ele diz, mas a forma como o faz. E aqui, apesar de tudo, Sócrates continua a ganhar pontos. Pode ter sido um primeiro-ministro controverso (desonesto, dizem na imprensa), mas continua a ser o mestre das entrevistas brilhantes! 
2021-04-19 23:31 POLÍTICA ENTREVISTAS TV DICAS PRÁTICAS