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Não, as expressões faciais não são a melhor forma de compreender as emoções

A comunicação é a base de todas as relações humanas, seja a nível pessoal, profissional ou social. Está presente em todos os momentos do nosso dia a dia: quando conversamos informalmente com alguém, quando fazemos uma apresentação à frente de uma plateia, quando pedimos tão simplesmente informações... Até mesmo quando não dizemos nada. Tudo é comunicação.

Comunicamos por palavras, mas também de forma não verbal – através da postura, de gestos, do contacto visual, da voz, das expressões faciais, e não só.

Tradicionalmente, as expressões faciais têm sido consideradas a principal via para comunicar (e observar) as emoções. A grande fama da série “Lie to Me” contribuiu muito para esta tendência e deu origem a inúmeros cursos que prometem ensinar a descodificar as expressões faciais dos nossos familiares, colegas e amigos e, com isto, entender as suas emoções (e até apanhar os mentirosos, dizem).

Mas será que são as expressões faciais que melhor revelam o estado emocional, como nos habituamos a ver retratado nos filmes e séries televisivas?😉

Foi exatamente isso que um investigador norte-americano decidiu tentar esclarecer.
O estudo. Num estudo publicado na revista American Psychologist, em 2017, Michael W. Kraus realizou um conjunto de experiências para avaliar até que ponto conseguimos ter uma melhor perceção das emoções dos nossos interlocutores através da voz, do rosto ou dos gestos. Neste caso concreto, até que ponto escutar apenas a voz nos permite ter uma perceção mais apurada da empatia do que através da leitura de expressões faciais ou qualquer outro canal de comunicação de emoções.

Para a investigação, os participantes no estudo foram convidados a observar diferentes situações de interação social, sendo que nuns casos escutavam apenas as vozes enquanto noutros assistiam às situações comunicacionais em todas as suas vertentes. Depois de cada interação tinham de indicar o tipo de emoção que, na sua opinião, cada elemento tinha experienciado.

Os resultados. O estudo permitiu confirmar que a voz é um canal de comunicação de emoções mais dinâmico e preciso do que outros canais de através dos quais expressamos emoções. A voz transmite aquilo que sentimos não só a partir do conteúdo do discurso - ou seja, do que é dito -, mas também através de pistas linguísticas e paralinguísticas que acompanham as palavras, como o tom, a entonação e o ritmo – o modo como é dito. As duas fontes de informação permitem compreender de forma mais precisa o estado emocional interior do orador.

Contrariando aquela que é a perceção mais comum, o estudo demonstra que a comunicação exclusivamente através da voz pode ser mais eficaz para a compreensão das emoções do que a comunicação que envolve a combinação de diferentes canais, como as expressões faciais e outros sinais não verbais. Constatou-se que ao eliminar as distrações visuais e focar exclusivamente na voz, é possível obter informações mais precisas sobre o estado emocional do orador – neste caso, menos é mais.

Ao tomarmos consciência da poderosa influência da voz na comunicação, podemos utilizar este conhecimento para melhorar as nossas capacidades comunicativas e os relacionamentos interpessoais, quer pessoais quer profissionais.

Agora já sabe: preste bem atenção ao que o seu interlocutor diz e à forma como diz. Mais do que observar qualquer sinal não verbal que possa acompanhar o discurso, escute! Dessa forma, a probabilidade de perceber exatamente o que a outra pessoa está a sentir é bem melhor 🎉.
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