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Quebrar regras pode conferir poder?

A sociedade ensina-nos desde cedo que seguir regras é fundamental para uma boa convivência. Mas a verdade é que há quem as quebre – e, surpreendentemente, nem sempre isso resulta em condenação. Pelo contrário, há transgressores que parecem ganhar poder aos olhos dos outros. 🧐

Pessoas que ignoram convenções sociais, que desafiam normas estabelecidas, muitas vezes são vistas como mais dominantes. Como se o simples ato de contrariar o esperado fosse, por si só, um sinal de autoridade. Mas até que ponto isso é verdade? Será que quebrar regras pode ser uma forma de ascender ao poder?

Um grupo de investigadores — Gerben A. van Kleef, Astrid C. Homan, Catrin Finkenauer, Seval Gündemir e Eftychia Stamkou — analisaram até que ponto a violação de normas sociais influencia a perceção de poder. Os resultados do estudo foram publicados na revista Social Psychological and Personality Science, em 2011.
O estudo. Para compreender esta relação, os investigadores realizaram quatro experiências. Em cada uma delas os participantes observavam uma situação em que alguém se comportava desrespeitando as normas e observavam também o comportamento inverso ou tido como normal e expectável.

Numa primeira experiência, numa sala de um serviço de renovação de passaportes repleta de gente impacientemente à espera da sua vez, dois indivíduos comportam-se de forma distinta: um levanta-se e serve-se de café usando inadvertidamente a garrafa dos funcionários do serviço, o outro vai com toda a naturalidade à casa de banho e regressa pouco depois.

Numa segunda experiência um contabilista é alertado para um erro num relatório de contas; numa primeira situação reage dizendo que de vez em quando se pode alterar ligeiramente as contas que ninguém detetará a manipulação, enquanto que numa segunda diz que é necessário corrigir a situação, porque é fundamental cumprir as regras.

Numa terceira experiência, numa primeira situação, um homem sentado na esplanada de um café coloca os pés em cima de uma cadeira, atira cinza do cigarro para o chão, faz o pedido de forma ríspida e deselegante; depois, numa segunda situação, cruza as pernas, coloca a cinza do cigarro no cinzeiro e faz o pedido simpaticamente.

Numa última experiência, dois homens entram numa sala: um atira a sua mala para o chão, senta-se no sofá e coloca os pés em cima da mesa, enquanto que o outro se sentou discreta e elegantemente.

Os resultados. Em todas as experiências verificou-se um padrão consistente: aqueles que violaram as normas foram percecionados como mais poderosos. A explicação para este fenómeno reside na inferência de que essas pessoas têm maior liberdade para agir como desejam, sem receio das consequências. Ou seja, quem desafia regras transmite a mensagem de que não está sujeito às mesmas limitações que os outros – e isso sugere poder.

Mais do que um mero comportamento rebelde, a violação de normas pode ser uma estratégia eficaz para consolidar uma posição dominante. É um fenómeno que se observa em figuras de liderança e personalidades influentes (basta olharmos para o novo Presidente dos EUA), que muitas vezes se destacam por desafiar convenções e estabelecer novas regras.

No seu dia a dia, como reage a quem quebra pequenas regras sociais? Será que inconscientemente associa esses comportamentos a poder?

A implicação deste estudo é clara: desafiar normas – de forma calculada e estratégica – pode ser uma forma de reforçar a influência e o estatuto. Experimente. E perceba até que ponto esta estratégia pode reforçar a sua capacidade de liderança. Mas sempre com cuidado e, o mais importante, com respeito pelo outro.🙂
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